BOA ALDEIA Um projecto para o futuro

Vamos trocar ideias, conceitos e movimentos em prol da terra que nos viu nascer.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A História

-- Boa Aldeia é uma povoação, sede de freguesia do concelho de Viseu, situada a cerca de 16 Km a sudoeste da cidade. Pertenceu, outrora, ao concelho de Molelos, do velho "territorium" de Besteiros, do qual foi desmembrada em 1876. De origem antiquíssima, a sua fundação remontará ao período neolítico.

-- Denominada Córnias na documentação medieval, é imprecisa a altura em que mudou o nome para o actual, supondo o Prof. Amadeu Ferraz de Carvalho que haja sido em data anterior ao século XVI. Com efeito, no "numeramento" de 1527, ordenado por D. João III, já Boa Aldeia figura em lugar de Córnias, com 44 moradores ou fogos, ultrapassando em população a própria sede do concelho, Molelos, que então não contava mais que 35. Facilmente se adivinha o motivo da mudança; porém, o topónimo Córnias, de modo nenhum deveria ser considerado pejorativo pelos naturais dali, porquanto, segundo Alberto Sampaio, corresponderá ao nome de um fruto, cornum-i, de uma árvore cultivada entre nós, no tempo da ocupação romana.

-- O diploma mais remoto em que córnias é mencionada, será, presumivelmente, uma carta de D. Sancho I (1185-1211) de doação a D. Gualdim Pais, mestre da Ordem do Templo, de um casal em Abravezes, outro na Lomba, termo de Sátão, e outro em Córnias, termo de Besteiros: et aliud in Cornias termino de Balistaris. Esclarece o autor de "A Terra de Besteiros..." ser "este casal de Córnias o único domínio dos Templários no termo de Besteiros".

-- Ao proceder-se à análise do texto das Inquisitiones de D. Afonso III, de 1258, verifica-se que em Córnias tinha o rei dois casais, repartindo-se a área restante da povoação por herdades da Ordem do Hospital, do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e de "milites". Embora a "villa" não fosse honrada nem coutada, o mordomo régio apenas entrava nas herdades reguengas. Tal acontecia porque as outras eram defendidas e amparadas pelos "melites", Martinho Eanes, de São Cosmado, e Mendo Fernandes. Uma das testemunhas inquiridas, Pedro Eanes, de Paramios, além de confirmar tudo o acima referido, acrescentou que ouvira dizer que o mordomo da Terra de Besteiros costumava entrar em Córnias para penhorar, mas que Mendo Anaya correra com ele: Menendus Anaya cucurrit ibi cum maior domus... A partir dessa data, não mais o mordomo ousou fazê-lo, resultando daí, como é óbvio, a perda dos direitos e da prestação de serviços devidos à Coroa.
-- Com o perpassar do tempo, foi a Ordem do Hospital de Jerusalém ou de Malta tomando ascendente em Boa Aldeia, até ao ponto de a povoação se tornar num dos sete coutos dependentes da Comenda de Ansemil (S. Pedro do Sul), sendo os seis restantes Ansemil, Goja, Rio de Mel, Ribolhos da Serra, Bustos e Sejães. Em 1747, dispunhao Couto de Boa Aldeia de uma companhia de ordenanças, com seu capitão e alferes, todos nomeados pelos comendadores, assim como o ouvidor. Tinha, igualmente, juíz ordinário, eleito pelo povo, que conhecia do cível, almotaçaria e orfãos, pertencendo as apelações e agravos à jurisdição do ouvidor.
-- Na esfera religiosa, era Boa Aldeia um curato anexo à igreja de S. Miguel Arcanjo de Caparrosa, vigararia perpétua do Padroado Real, comenda da Ordem de Cristo. A respeito da criação do curato, nada de concreto sabemos; porém, já nos inícios de 1657 tinha Boa Aldeia igreja própria da invocação de Nossa Senhora da Assunção. Por escritura de 11 de Janeiro daquele ano, obrigavam-se os moradores "a sustentar a Confraria e Irmandade do Senhor, novamente erecta na sua igreja". Em 1675, sendo bispo de Viseu D. João de Melo, tinha a igreja sacrário, dois altares colaterais dedicados a Jesus e à Senhora do Rosário, estando "suficientemente ornada". Havia duas ermidas no âmbito da freguesia que contava 341 habitantes, 300 dos quais maiores e 41 menores. O cura que nesse ano servia, confirmado por Bulas Apostólicas, era pessoa letrada: nada menos que Bacharel Canonista. Das ermidas acima referidas, é pena ter-se omitido a localização e a invocação, elementos de inegável interesse para a história da paróquia.
-- A primitiva igreja paroquial, já em avançado estado de ruína, foi demolida na última década do século XVIII, quando se procedia à edificação do formoso templo actual. Situava-se no espaço defronte deste, no local assinalado pelo artístico cruzeiro do adro.
-- Posta a concurso a obra da nova igreja, arrematou-a José Pinheiro da Mota, mestre pedreiro da freguesia de Santiago de Besteiros, pela quantia de 700.000 réis. Segundo a "escriturade contrato e obrigação", lavrada em 4 de Fevereiro de 1781, nas notas de António José Costa e Fonseca, tabelião do Couto de Boa Aldeia, comprometia-se o referido mestre pedreiro a fazer "a igreja nova deste Couto, na forma da planta e apontamentos (...) a qual igreja se faria para a bandade cima do caminho, atrás da Igreja Velha". O preço do ajuste seria satisfeito em quatro pagamentos, "com a obrigação de ele dar finda a dita obra, na forma da planta e apontamentos, por tempo de dois anos que correrão do mês de Março presente em diante...". Outorgaram pela paróquia os eleitos, António José da Mota e Manuel Gonçalves, o reitor da Confraria do Senhor, António José do Sobrado, o juiz da igreja, Domingos Gomes, e os padres João Camelo e António Gomes Saraiva.
Em Revista Beira - Antiguidades de Boa Aldeia, Viseu

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